domingo, 24 de maio de 2020

Os dias da quarentena:


No inicio da manha do mês 5 da era da quarentena do ano 2020, eu me sentei à frente do meu note para trabalhar, na varanda com luz do dia e pássaros à  festejar nosso recolhimento.

O céu estava genialmente azul, a luz do sol estava amarelo alegria, o mundo estava um pouco quieto, um pouco calado e com a respiração presa sem saber ao certo quando voltaríamos a respirar, sem o medo de nunca mais faze-lo.

Naquele dia, a tarde foi caindo devagar sobre nós e eu percebi que eu já não contava as horas no vidro translucido do celular ou do relógio eu simplesmente olhava o céu e sabia que – são “3 horas da tarde “e quando a varanda começava a sombrear muito lentamente eu já sabia que as “5 horas da tarde” caminhava mansamente ao meu encontro é era como uma gata em busca de abrigo me lambia as pernas e me dizia : hora de encerra
r.
Nestes meses em casa os dias não se arrastaram, eles, os dias, disparavam em direção ao fim, e o fim para cada um seria diferente. De novo inertes estávamos nos aqui parados olhando a ação da natureza, do tempo e de Deus.

Todos os dias são diferentes, mesmo com a rotina do trabalho, tenho horas de contento e pequenos delírios, horinhas de encantamento isso tudo mesmo com a pandemia nos assolando e o pandemônio instalado pelos homens.

Tenho dias, de sóis quentinhos, sentada na calçada, oras com Abel e sua preguiça pegajosa e oras com Axel com sua independência canina fingindo não me  ver ali, bem ali do seu lado quase deitada... pensando em nada só sentindo levemente o mundo respirar.

Eu tenho visto os olhos de meus filhos, a testa enrugada do meu marido e tenho ouvido as historias do mundo, as lágrimas incontáveis de tantas pessoas, a força inabalável de outras que saem para lutar todos os dias. 

Tenho ouvido o silencio do poder (Shiiii) !Enquanto a roda gira e nos esmaga, estamos sem Ar....

Estamos indo embora, somos muitos partindo da vida de uma única vez, estamos partindo sem dizer – Adeus, eu te amo ou eu te amei tanto. 

 As dores de tantos corações juntos, apertados e rasgados ao meio sem despedidas... As dores de um mundo inteiro dentro dos meus olhos, apertando meu  pequeno coração. 

Eu,...Não conto mais os dias, isso hoje, não parece fazer sentido...estamos só aqui...todos nós...esperando poder respirar e acordar no dia seguinte.

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Ainda Perdida...


Eu me perdi há tanto tempo atrás que não sei saberia encontrar meu caminho de volta.

Me perdi dentro de mim, do meu eu , do meu ser

Não, eu não me perdi em qualquer lugar, me perdi dentro de mim, das minhas dores, saudades e lágrimas.

Me perdi dentro dos pensamentos , das duvidas e de minhas incertezas.

Ainda não sou eu, quem escreve é um só espectro do que eu achei que seria um dia.

Não tenho olhos, não tenho olfato e não vejo , estou cega.

Corro, corro e corro todos os dias para além de mim.

Para além das minhas barreiras e das minhas certezas?!

Não sigo mais a frente... O futuro e um novo amigo que ainda não conheci e não sei se quero conhece-lo.
O presente me desbota e o passado esta lá atrás, eu não me viro mais para encara-lo.

Mesmo que hoje eu ache, pense e talvez tenha alguma certeza, eu não estou pronta para dar o próximo passo.

Eu sigo o caminho do sol, das nuvens, chuvas e tempestades e das borboletas leves almas, doces que bailam aos nos olhos mais poucos a veem.

Não existe nada nesse mundo que não seja belo, cada um a sua maneira, cada um do seu jeito, com sua cor, estranhezas e sabores...e as dores.

Correr agora parece inoportuno e não me parece sábio.

Eu olho de cima do muro a rua vazia, ouço o cachorro latindo, um gatinho no telhado, beija- flores na minha arvore são muitos, nunca vi tantos! O sol ilumina, o vento seca meu rosto, mas o grito continua lá sufocado, triste e sem consolo...

Eu me perdi faz tempo, olhando a mim refletida neste baile da vida nos sons do mundo , no balé das aves, no canto da sereias no cheiro da vida...eu ainda não sei quem sou, e não sei onde e o meu lugar.