domingo, 5 de fevereiro de 2012

"Candida e Ricardo"(uma parte qualquer)







Por Candida:



Com o coração a apertar as teclas negras e brilhantes de um computador, as letras parecem fluorecentes; o vozerio que vem das salas de aula é simplesmente infernal, centenas de vozes juntas dizendo nada, apenas um burburinho incompreensível. Aquele desespero no peito, a angústia e a tristeza estão de volta.

Acabo de falar em fé - isso é pura demagogia, sou hipócrita, não sei o que é ter fé - mas, na verdade, se nem mim acredito, muito menos nas imagens que me chegam através dos meus sonhos, esparsas, por isso não acredito nas coisas que as pessoas me contam ou dizem fazer, porque (a vida me provou isso) todos mentem em algum momento da vida, todos, e tudo é como nunca deveria ter sido, tudo é nada!

Meus sonhos atuais são muito parecidos com os de minha infância - os melhores de minha vida - quando eu brincava de professora, médica e modelo fotográfica; eu sorria para o nada e fazia poses muito loucas quando estava só, e vestia as roupas de minha tia solteira e jovem porque as achava lindas, mesmo que enormes em mim e, assim, eu sentia eu tinha uma deliciosa sensação de liberdade, sentia que poderia ser o que quisesse, dona de mim...

E aqueles batons com gosto de frutas, da Avon, que ela teimava em comprar (mas que eu adorava!) e  me propiciavam deliciosos momentos de cumplicidade com o espelho... ahhh, como era bom lamber um por um, pra provar se realmente eram tão deliciosos quanto o cheiro e para escolher qual que eu utilizaria naquele momento de entrega... e eu acaba comendo-os até o fim, argh!

Lembro de mim, ainda pequena, calma, muito calma, tímida,  de uma timidez única, só minha, e que às vezes ainda me possui; e admirava em demasia a solteirice e a independência de minha tia, a ponto de prometer a mim mesma que nunca me casaria, que estudaria medicina e faria muitas viagens através do mundo. Mas... me casei, não estudei medicina e não conheço o mundo! 
 
Nada daquilo que a menina Cândida sonhara tornou-se realidade, nada, e hoje me pego imersa em devaneios, presa a tantos quês e porquês, sem nada compreender, desejando, vez por outra, morrer, para sempre desaparecer! Quando me olho no espelho, vislumbro minha mãe a se arrumar, determinada por natureza, como sempre fôra, e me pergunto o por quê eu não ter saído a ela desse jeito, tão forte e segura... por que!?

E como não encontro uma resposta adequada para minha questão, acabo adormecendo, como sempre...

Por Leninha:


Desde o dia em que a ví pela primeira vez, enxerguei-a como sendo aquele alguém com quem eu queria ficar o resto de minha vida, a única luz de minha vida, a pessoa com quem troquei incontáveis selinhos...

Cândida sempre me dizia que eu parecia um botão de rosas com boca de corneta (...rs...) uma criança gorduchinha e feliz que por tudo chorava. Ela era por demais atenciosa e engraçada, cozinhava muito mal, mas, como eu gostava muito dela, acabava comendo tudo o que ela carinhosamente me preparava - o Scooby, sim, era o grande apreciador dos quitutes de Cândida, coisa de cachorro mesmo!

Nas manhãs de domingo, empurrávamos o sofá para o canto e dançávamos até não mais poder ao som dos clássicos de rock que ela tanto amava, e lá nos acabávamos de tanto pular como doidas, rindo sem parar e, também, fazendo os outros rirem muito. Cândida era a mãe perfeita que nunca tive...

Não sei exatamente quando Ricardo entrou em sua vida, mas, ao tirá-la de mim, desejei do fundo do coração que ele morresse! Nunca o odiei, porque ele sempre me tratou muito bem, apesar de sempre tê-lo tratado mal; ele já havia tirado minha mãe de mim, eu não tinha mais uma família, estava ali´, junto com eles, mas era infeliz!

Não queria mais ver minha mãe, e fui para a casa de minha avó, que me recebeu como verdadeira filha pródiga. E então, a partir daí, enterrei Cândida; eu fui tudo o que ela nunca foi. 

Não me casei (ao menos até agora), concluí a faculdade de medicina e já conheço grande parte do mundo; fui a todos os lugares que ela gostaria de ter ido e, de lá, lhe enviava cartões postais como se, com isso, pretendesse atingí-la em cheio no coração. Mas, ao invés do resultado pretendido, ela me respondia de forma infantil, recomendando-me que fosse a determinados lugares próximos de onde me encontrava. Isso me enchia de ódio, mas  acabava cedendo aos seus pedidos, era como se ela ainda me guiasse.

 Quando o Maverick de Ricardo cortou a estrada naquele dia fatídico, meu coração gelou e, impulsivamente, me dirigí ao hospital mais próximo, como à procura do que estava por acontecer e... Decorridos alguns poucos minutos, lá chegando, deu para ver a cena que me marcaria para o resto de minha vida - Ricardo, respirando com muita dificuldade, e minha mãe, numa maca, inconsciente, já em coma. Ele me viu ali e eu percebí o desespero em seus olhos quando, rapidamente, me puxou para junto de sí num átimo de forças que encontrou e me pediu desculpas. Mesmo sabendo que ele não tinha culpa alguma, fui embora se nada lhe responder, deixando-o emudecido e aparvalhado. Alí os deixei, virando as costas e indo embora, esperando que a morte cumprisse sua finalidade...

Mas Cândida era forte, mais forte do que eu imaginava, e sobreviveu ao coma e às demais complicações subsequentes; Ricardo, o bravo, tambem se recuperou e eu voltei a conviver com os dois.

Mudei-me para perto deles; eles riam, dizendo que eu deveria morar em sua casa, porque eu acabava passando meus dias mais lá do que em meu próprio apartamento. Cândida e Ricardo foram como que mãe e pai para mim, mas isso somente nas vezes em que eu permiti que fossem. Segundo eles, eu nascí numa noite inigualável, especial, onde nada fôra planejado. Somente anos mais tarde é que ele soube de minha existência, e isso fez com que me amasse e me protegesse à distância; eu só vim saber dessa dedicação depois do tal acidente, quando meu tio Bernardo me abraçou dizendo que estava feliz por me ver alí, junto de meus pais, e que Ricardo nunca me havia abandonado...

Bernardo foi um bom tio, quase um pai, criando-me e levando-me em rédeas curtas quando necessário, era moralista demais! Um dia, foi me apanhar numa boate, bêbada, e... melhor não falar disto, ao menos agora!
   .....continua....to be....



(Revisão e boas idéias AmigOsmar,obrigada)


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